Editorial aboutCOM
A expressão Human to Human (ou H2H) têm se popularizado no Brasil com o objetivo de (re)lembrar o mercado de que quem toma decisões de compra, consumo e negócios são pessoas, mesmo que representando uma instituição – seja ela B2C ou B2B. O que isso significa? Que o acontece hoje é que boa parte da população não se vê identificada por campanhas ou comunicações com as quais são impactadas e isso interfere na sua decisão de compra, uma vez que a mensagem ou o formato que chega até elas não condiz com seus valores ou visão de mundo. Em outras palavras: não dialoga com o seu jeito de ser.
Voltando no tempo, em 1920, Edward Bernays, sobrinho de Freud e pai das relações públicas nos Estados Unidos, tornou-se o mestre da empatia no ambiente corporativo ao entender que a maneira mais eficaz de aproximar um potencial público de uma marca é investigar a fundo suas emoções e desejos. Suas campanhas eram sempre baseadas em harmonizar o propósito de marcas com vontades expressas (ou ainda não) de seus stakeholders por meio de um mergulho em seus modos de ser e agir. Por esse fator histórico, já é possível perceber que o humano sempre foi a matéria-prima de toda estratégia de comunicação e relacionamento.
A segmentação de públicos, targets, mercado e toda a tecnologia envolvida nesse processo é muito importante para as estratégias, mas a proximidade e o conhecimento do comportamento das pessoas e da experiência que buscam precisam ser considerados com o mesmo peso dos dados no momento da definição de campanhas de marketing, comunicação e vendas. A partir desse contexto, desenvolver boas narrativas nunca foi tão importante para gerar valor em uma conversa.
O episódio Hang the DJ, da série Black Mirror, mostra os protagonistas com um app que promete calcular, com antecedência, as chances de afinidade e atração por uma pessoa, diminuindo o risco da rejeição. A tecnologia aqui parece como uma aliada para combater um dos maiores medos do ser humano, mas, olhando por outro lado, nesse formato impossibilita as pessoas de experienciar a própria vida, que é o que acontece com os personagens e causa sua revolta. Nesse contexto, a tecnologia diminui consideravelmente o desenvolvimento da sensibilidade humana para a criação de relações e o livre arbítrio de se construir seu próprio caminho e o torna refém de probabilidades.
Em 2017, ganhamos um bom exemplo de como a tecnologia pode influenciar o dia a dia das pessoas. Por meio de inteligência artificial, a gigante da tecnologia IBM resolveu mostrar ao público em geral o potencial de uma de suas soluções ao criar o projeto “A Voz da Arte” e utilizar o Watson para interagir com os visitantes conversando, sobre as obras expostas na Pinacoteca de São Paulo. O sistema cognitivo da IBM foi alimentado com informações sobre autores, curiosidades, histórias, entre outras, para que o público pudesse questioná-lo sobre quadros e esculturas presentes no local, tornando a visita mais interessante e acessível para todos.
Repare como essa ação da IBM conciliou seu propósito com o interesse das pessoas. Tornou seu negócio mais tangível para milhares de visitantes que estiveram ali e que esse ativo responde às estratégias de comunicação, marketing e negócios porque traduz seu modo de pensar e agir de forma acessível para todos. Diretamente, aproxima mais gente do seu negócio e, para o mercado B2B, ganha mais visibilidade e conexão com seu decisor de compra, que vê em projetos como esse seus valores pessoais representados. Seu jeito de enxergar o mundo, indo além de dados, conectando com seus interesses como ser humano.
Outro case interessante é o da Orange Business Services, que possui uma plataforma de comunicação integrada para navios. Ela conecta frotas no mar aos escritórios em solo. Além de todo o apoio dado ao negócio, como aumento da eficiência da frota e redução de custos, melhora a experiência das equipes embarcadas, pois possibilita que tenham banda larga e consigam manter a comunicação com seus familiares e amigos, mesmo passando dias (para alguns, meses) no mar. Num mundo em que não existe mais comunicação interna ou externa e colaboradores são o espelho da sua marca para o mercado (como está a avaliação da sua empresa na Love Mondays?), se preocupar com as relações que constrói com ele, significa entender suas necessidades também quando está sem o crachá.
Lawrence Chung Koo, Professor Doutor e Pesquisador em Inteligência Artificial na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, disse uma vez que “toda robótica é baseada no que o homem fazia”, mas se tem uma coisa que talvez ela não consiga fazer é construir essa tal relação H2H da qual tanto se fala hoje.