por Flavia Sobral Faccioni
Quarenta e cinco minutos do segundo tempo – quem nunca ouviu essa expressão? Pois bem, são nesses minutos finais que muitas empresas decidem mudar o rumo de suas divulgações. Imagine. Você tem uma estratégia de PR (Public Relations) desenhada para o lançamento de uma pesquisa superbacana. O levantamento foi feito nos países para os quais você deseja expandir os seus negócios (e isso já deveria estar no plano de PR, já que está no plano de negócios, correto?). Os dados são muito bons e vão, com certeza, chamar a atenção da mídia local. Você investe em pesquisa, prepara um press release para o seu país de origem e outros nos quais já tem agência e pum! Esquecemos do Brasil!
Pois é! Muitas vezes por aqui recebo solicitações assim de parceiros internacionais: temos um press release e uma pesquisa ótimos e precisamos fazer tradução/adaptação, ‘vender’ uma exclusiva e trabalhar posteriormente a notícia com os demais veículos – tudo isso, entre segunda (no fim do dia) e quarta-feira.
Pergunta número 1: Qual é a estratégia por trás deste plano de ação?
Definitivamente chegar para um parceiro local com a estratégia pronta deve ser um dos piores erros que se comete em comunicação regional (América Latina, ao menos). Você sabe se esse plano de ação funciona igual para o Brasil, o México, a Colômbia? Você sabe se dá tempo de vender uma exclusiva que é boa, não estamos discutindo, mas não é SENSACIONAL para rolar aquele “Parem as máquinas! …. e falem comigo”? Afinal, você sabe como funciona a mídia no Brasil?
Pergunta número 2: Quando foi decidido que a pesquisa englobaria o Brasil, ninguém pensou em divulgá-la por aqui?
Muito me intriga saber se a primeira agência (a original de todas, aquela que atende a sede da empresa) não se perguntou ou não perguntou ao cliente como seria feita a divulgação nos demais países englobados pela pesquisa. Ora, se o estudo foi feito no Brasil, no México ou nas Arábias é porque faz parte da estratégia de negócios entender algo sobre esses mercados, não? E se vamos divulgar a pesquisa, a quem vai interessar, na Inglaterra, ter um dado comparado com o do Brasil? As empresas, às vezes, se esquecem da máxima de comunicação: ela deve estar alinhada aos negócios. Isso é o básico. Ela serve para apoiar as estratégias de negócios. Existe um planejamento (ou deveria existir). Nada que é divulgado é em vão.
Pergunta número 3: Por que as pessoas acham que agência de comunicação é igual a um misto de pastelaria com varejista “quer pagar quanto”?
Um release, uma entrevista e muitos resultados, com urgência, pelo que eu posso pagar. É essa a proposta de muitos ‘parceiros’ por aí. Será que a crise no Brasil faz com que as pessoas entendam que aceitamos qualquer negócio? Ou porque vão pagar em dólar podem pagar pouco? Sempre ouvi do meu pai: se você faz em cinco minutos, meia hora ou um dia, não é porque você faz rápido – é porque estudou o suficiente para conseguir fazer rápido. No caso de comunicação, além disso, você ainda tem o relacionamento correto para conseguir bons resultados. E tudo isso tem um valor. É por isso que existem agências mais adequadas para cada cliente. As empresas podem ser especializadas em um determinado segmento ou, ainda, ter um tamanho proporcional ao investimento que você está apto a fazer – cada panela tem a sua tampa! E, posso apostar, mesmo a melhor agência do mundo, com pressa, não faz um trabalho tão bom como faria se tivesse tempo de elaborar a melhor estratégia para cada notícia.
A pressa é inimiga da comunicação. Da comunicação regional, internacional, mais ainda. É preciso mais que vontade de aparecer e fazer uma divulgação em um país, é preciso entender qual é a estratégia de negócios da empresa, qual é o objetivo, quem ela quer atingir. E isso demanda tempo, estudo, calma. Tudo para conseguir o melhor resultado, com o melhor custo-benefício para o cliente, sempre, mas sem se esquecer que, afinal, estamos aqui porque somos consultores de comunicação, e não disparadores de releases – para isso, já existe até gente dizendo que não precisa de gente (mas essa discussão fica para um próximo texto)!
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Imagem: Pixabay